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O uso, e o mau uso, de termos bancários em criptografia
um mês atrás

A distinção entre bancos e instituições financeiras não bancárias tornou-se cada vez mais distorcida. Fintechs não bancárias agem como bancos e bancos tentam parecer fintechs inovadoras (muitas vezes retirando a palavra "banco" de seu nome). Essa indefinição gerou um debate crucial em torno da terminologia usada por não-bancos, com seus nomes comerciais e para produtos e serviços tradicionalmente oferecidos pelos bancos, como ganhar juros sobre depósitos. O cerne dessa discussão não é apenas semântica – é sobre a proteção do consumidor e os marcos regulatórios projetados para protegê-la.

Os riscos por trás dos termos

O termo "banco" é um termo regulamentado reservado para ser usado apenas por instituições financeiras detentoras de licenças bancárias. Isso é imposto pelo regulador bancário e até mesmo imposto pelos registradores de domínio e pelo registrador de marcas. Os não bancos não podem ter a palavra "banco" em seu nome e limitam-se a usar termos como "bancos". Quando os consumidores ouvem falar em ganhar "juros" sobre seus "depósitos", eles trazem um conjunto de expectativas moldadas por sua experiência de vida, mesmo que indireta, de regulação bancária. Esses termos implicam um nível de segurança e proteção, sustentado por inúmeras regras e regulamentos que visam minimizar o risco. No entanto, as entidades não bancárias, pela sua própria natureza, operam fora destes regulamentos bancários. O uso da terminologia bancária, portanto, pode induzir os consumidores em erro sobre a natureza do produto oferecido e as proteções — ou a falta delas — que o acompanham. E é por isso que é ilegal para os não bancários usar terminologia bancária regulamentada.

O caso Celsius e as recompensas

A Celsius Network, empresa pioneira no uso do termo "recompensas" em vez de interesse, serve de alerta. Ao contornar a terminologia bancária tradicional, a Celsius posicionou-se como capaz de oferecer serviços bancários sem ser um banco real (licenciado e regulamentado). Essa estratégia teve um alto custo: uma multa impressionante de US$ 4,6 bilhões por várias violações regulatórias, imposta depois que a empresa pediu falência quando não conseguiu fornecer aos clientes seus depósitos e garantias (já que ambos haviam sido rehipotéticos pela Celsius em investimentos com bloqueios de longa duração). Este exemplo ressalta os perigos potenciais escondidos por trás do rebranding das funções bancárias tradicionais com termos mais suaves e menos regulamentados. E Celsius é apenas um exemplo; outros como BlockFi, Gemini, Coinbase, Genesis e outros ofereceram "recompensas" baseadas em taxas de juros sem licenças regulatórias para fazê-lo e todos eles (entre outros) foram multados ou tiveram que encerrar ou revisar seus programas de recompensa.

Implicações Internacionais

As repercussões do uso de termos bancários vão além das empresas sediadas nos EUA. Entidades não americanas, como a Nexo, também enfrentaram multas e ações regulatórias por erros semelhantes, eventualmente levando-as a sair de mercados com leis rigorosas de proteção ao consumidor, como os EUA. Esse padrão levanta um alerta vermelho para consumidores e reguladores. Se um não-banco está disposto a desrespeitar leis destinadas a proteger os consumidores em uma área, que outros cantos eles podem estar cortando? E, mais importante, quão seguros são os fundos dos consumidores quando confiados a essas instituições?

Um apelo à clareza e à cautela

O fascínio de produtos financeiros inovadores não deve cegar os consumidores para os riscos que esses produtos podem acarretar, especialmente quando oferecidos por entidades que intencionalmente ignoram o quadro regulamentar estabelecido para proteger o público. Esta situação exige uma dupla resposta: um maior escrutínio regulamentar dos não bancos utilizando terminologia enganosa e uma maior sensibilização dos consumidores para as protecções que perdem quando se envolvem com estas entidades. Se um produto parece um produto bancário tradicional, mas usa um termo que os bancos não usam, tenha cuidado. Por exemplo, quando você deposita fundos, mas as empresas dizem que você está emprestando dinheiro, isso é um sinal de alerta.

Ponto-chave

À medida que o cenário financeiro continua a evoluir, a importância de uma comunicação clara e honesta e de uma conformidade regulatória rigorosa nunca foi tão grande. Os consumidores merecem saber exatamente o que estão assinando, incluindo os riscos envolvidos. Da mesma forma, as instituições financeiras não bancárias devem ser responsabilizadas pelos termos que usam e pelas implicações que esses termos têm. Só através da transparência, da regulamentação racional e da educação dos consumidores é possível manter o equilíbrio entre a inovação e a protecção dos consumidores.

Ao navegar neste terreno complexo, consumidores, reguladores e entidades financeiras devem permanecer vigilantes. O futuro das finanças depende não só da inovação, mas da confiança e segurança daqueles a quem serve.

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